domingo, 28 de abril de 2013


Ilsinho faz no fim, Shakhtar empata com Metalist e é campeão ucraniano

Meia ex-São Paulo completa lançamento de Fernandinho aos 39 do
segundo tempo e garante matematicamente o oitavo título do clube

Ilsinho comemoração Shakhtar (Foto: Reprodução / Site Oficial)Ilsinho festeja gol do título do Shakhtar (Site Oficial)
O Shakhtar se sagrou campeão ucraniano pela oitava vez neste domingo. E, como não poderia ser diferente nos últimos tempos, com imensa contribuição brasileira. O título veio graças ao empate por 1 a 1, conquistado aos 39 minutos do segundo tempo com o gol do meia Ilsinho, ex-São Paulo. Ele recebeu lançamento do volante Fernandinho, ex-Atlético-PR, e com um toque tirou do goleiro Horyainov na Donbass Arena.
Desta forma, o Shakhtar comemora a sua quarta conquista consecutiva no país com quatro rodadas de antecipação. Os mineiros chegaram aos 71 pontos, contra 56 de Dínamo de Kiev e Metalist Kharkiv - o time da capital leva a melhor no saldo de gols (31 a 29). Apenas o segundo colocado garantirá uma vaga na próxima edição da Liga dos Campeões.
Além de Ilsinho e Fernandinho, a equipe do técnico Mircea Lucescu contou com o meia Douglas Costa, ex-Grêmio, e os atacantes Luiz Adriano e Taison, ambos ex-Internacional - Alex Teixeira, ex-Vasco, entrou no segundo tempo. O Metalist teve o lateral Márcio Azevedo, ex-Botafogo, o meia Cleiton Xavier, ex-Palmeiras, e o meia-atacante Marlos, ex-São Paulo.
- É sempre muito bom conquistar um título. Nos dá a sensação de dever cumprido. O Shakhtar fez uma campanha quase perfeita e o título, com quatro rodadas de antecedência, foi muito merecido. É a minha terceira conquista seguida do Ucraniano. Não podemos relaxar, pois ainda estamos na disputa também da Copa da Ucrânia. Vamos comemorar com moderação agora e deixar a grande festa mesmo para a última rodada, quando enfrentaremos o Metalurh Donetsk no nosso estádio - disse Alex Teixeira.
Festa título Shakhtar (Foto: Reprodução / Site Oficial)

Maracanã reabre com luz, emoção
e pequenos problemas estruturais

Falta d'água em alguns banheiros, elevador parado e algumas cadeiras soltas foram principais falhas. Bares, acesso, limpeza e telões funcionaram

O Maracanã é nosso outra vez. Depois de 31 meses de reforma, o palco mais importante do futebol brasileiro reabriu suas portas na tarde deste sábado com um jogo entre amigos dos ídolos Ronaldo e Bebeto. Fora de campo, a emoção tomou conta de quem teve o privilégio de fazer parte da festa, que contou com a presença da presidente Dilma Rousseff, do governador Sérgio Cabral e do ex-presidente Lula, entre outras personalidades. O evento-teste serviu também para revelar alguns problemas que precisam ser resolvidos até o começo da Copa das Confederações, em junho. Antes da partida, por exemplo, cambistas foram presos vendendo os ingressos doados pelo governo estadual aos operários. Além disso, o trânsito ficou bastante complicado nos arredores do estádio.
Por volta das 10h da manhã, as ruas já apresentavam sinais de congestionamento, mesmo ainda livres para os carros. A torcida foi chegando aos poucos e era abordada por cambistas e operários vendendo ingressos no valor de até R$ 100. A polícia conseguiu prender alguns deles.
Mosaico Maracanã primeiro evento teste (Foto: Globoesporte.com)Banheiros estavam limpos, mas em alguns faltou água. Bares não tiveram filas. Em alguns setores, cadeiras
estavam soltas, com peças espalhadas pelo chão (Foto: Globoesporte.com)

Com um público reduzido (cerca de 27 mil presentes), a entrada ao estádio foi tranquila e o deslocamento no interior dele acabou facilitado com a colaboração de voluntários. Longas filas tiveram fim poucos minutos após a abertura dos portões, por volta das 16h30m. O jogo estava marcado para 19h.
Sem lugares marcados
Uma das maiores preocupações, por conta da conduta não ser um prática no Brasil, não foi testada no Maracanã. Assim que o torcedor ingressava nas arquibancadas e pedia ajuda para encontrar seu assento, era informado de que não era necessário seguir o que dizia o ingresso. A única exceção foi uma pequena parte próxima da tribuna de honra, ocupada apenas por militares devido à presença da presidente Dilma. A partir do segundo tempo, porém, nem mesmo este local tinha fiscalização.
Também houve problemas estruturais. Um dos quatro elevadores testados acabou apresentando falha e fez com que alguns jornalistas tivessem que usar as escadas. Falhas nas bombas de água também deixaram certos banheiros sem abastecimento. Muitos desses banheiros estavam fechados. Porém, os disponíveis em momento algum apresentaram filas ou até mesmo mau cheiro. Sempre com um funcionário de limpeza a postos, os locais tinham bom cheiro ainda ao término da partida.
Os bares foram um ponto positivo. Apesar de ter que se levar em conta que não havia necessidade da compra de fichas, o que reduz bastante o número de filas, o atendimento era rápido tanto para bebidas quanto para comidas.
Cadeiras e parafusos soltos
Nas arquibancadas, foi possível observar algumas cadeiras soltas na fileira I, que fica bem próxima ao gramado. Além disso, parafusos estavam no chão. Porém, essas cadeiras não apresentavam sinais de vandalismo. O mais provável é que não estivessem colocadas corretamente.
Outro ponto que chamou atenção foi a confusão feita por alguns motoristas das vans que levavam os jornalistas do Sambódromo até o estádio. Um deles, por exemplo, errou o caminho e demorou mais de 40 minutos para realizar o trajeto, que leva menos de dez. Alguns guardas municipais também não sabiam dar a informação certa de onde seria o acesso das vans ao estádio.
Protestos fora e dentro do Maracanã
Dois protestos se destacaram na reinauguração do Maracanã. Fora do estádio, três manifestantes levantaram as blusas e mostraram os seios. Elas exibiam frases e criticavam a Copa do Mundo. No intervalo do jogo, um grupo, denominado "Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas" também realizou protestos, mas dessa vez nas arquibancadas e contra a privatização. O mesmo grupo já havia feito protestos durante a desocupação do Museu do Índio, em março. O prédio será demolido para a construção do Museu Olímpico em projeto que visa as Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016.
Maracanã reabertura protesto (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Protesto de torcedores no evento-teste de reabertura do Maracanã (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Show de luzes e de imagens
Na parte de infra, um dos destaques foi a iluminação do estádio, além da qualidade dos quatro telões. O campo de jogo foi iluminado por 396 refletores, que ganhavam ainda mais força com as 23.500 luminárias. Nos telões, as imagens surpreendiam pela perfeição. Ainda mais com um sistema de som de alto nível, com 78 alto-falantes na arquibancada e campo e outros 3.860 nas áreas internas.
A saída das pessoas aconteceu sem maiores problemas. Com o sorteio de prêmios para os operários após o jogo, nem todos foram embora ao mesmo tempo, o que diminuiu o fluxo e evitou aglomerações. Ao descer uma das rampas das arquibancadas, os torcedores eram aplaudidos por diversos voluntários.
Palco das finais da Copa das Confederações desse ano e da Copa do Mundo de 2014, o Maracanã será oficialmente reinaugurado no dia 2 de junho, com o jogo amistoso entre Brasil e Inglaterra. Antes disso, o estádio receberá outro evento-teste.
cores luzes maracana reabertura (Foto: Janir Junior)Show de luzes para o evento-teste de reabertura do Maracanã (Foto: Janir Junior/ Globoesporte.com)

Ronaldo celebra gol com gandula, que admite: ‘Fiquei sem saber o que fazer’

Na estreia do novo Maracanã, Fenômeno marca golaço após “elástico” e pula em funcionário durante a comemoração: “Emoção total”, conta Fernando

O novo Maracanã recebeu seu primeiro jogo na noite deste sábado e, antes mesmo do desfile de craques na Copa das Confederações e na Copa do Mundo, já tem história para contar.
Na partida de reinauguração, no amistoso entre os amigos de Ronaldo e Bebeto, o Fenômeno foi protagonista do lance mais marcante. Aos 32 minutos do segundo tempo, recebeu passe de Marcio Atala, seu preparador físico no quadro “Medida Certa”, do programa “Fantástico”, da “TV Globo”, aplicou um elástico no ex-jogador Donato e chutou cruzado de canhota. Um golaço que ficará marcado como a primeira pintura do novo Maracanã.
O lance empolgou até mesmo o experiente Ronaldo, maior artilheiro da história das Copas do Mundo. Na comemoração, o Fenômeno pulou em cima e abraçou a primeira pessoa que viu na frente: o gandula Fernando Abreu, de 32 anos.
O gandula Fernando Abreu participa da comemoração do gol de Ronaldo (Foto: Marcelo Baltar/ Globoesporte.com)O gandula Fernando Abreu participa de evento-teste
(Foto: Marcelo Baltar/ Globoesporte.com)
- Foi emoção total. Tomei um susto quando ele veio pra cima de mim. Fiquei sem saber o que fazer, com o coração na mão. Me empolguei. Na hora, até esqueci que estava trabalhando. Ele veio, pulou, me abraçou e gritou: “Bate aqui, cara”. Uma honra – contou Fernando, que trabalha como gandula no Engenhão e é diretor de alegorias da escola de samba paulista, “Gaviões da Fiel”, mesmo morando no Rio de Janeiro.
Após o jogo, Ronaldo falou sobre a comemoração com o gandula.
- Foi coisa de momento, zoação – disse o Fenômeno, que também comentou sobre o golaço.
- Foi uma jogada muito rápida. Nem percebi direito o que tinha feito. Já tinha tentado várias vezes na minha carreira e dessa vez deu certo. A jogada surgiu dele (Rivellino), aqui no Maracanã. Ele foi o primeiro que eu lembro que fez essa jogada. Acabei conseguindo repetir. Foram dois belos gols – disse o jogador.
A partida terminou com vitória de 8 a 5 para a equipe de Ronaldo sobre os amigos de Bebeto. Esse foi o primeiro evento-teste do Maracanã para a Copa das Confederações, e o público foi formado por operários e convidados (como a presidente Dilma Rousseff).
O próximo jogo do estádio também não terá venda de ingressos e deve acontecer no dia 15 de maio, ainda sem os times definidos. O teste definitivo será em 2 de junho, com o amistoso entre Brasil e Inglaterra. Na ocasião, o Maracanã receberá 100% de sua capacidade pela primeira vez após a reforma para a Copa do Mundo.

O tufo de grama de Ronaldo e outras histórias: a festa por outro ângulo

Antes dos dois gols, Fenômeno estreia gramado do Maracanã com chute errado. Bastidores da reabertura têm episódios curiosos e engraçados

Antes de a bola rolar no novo gramado do Maracanã, Roger, já sem a aliança depois da separação da atriz Deborah Secco, bateu um descontraído papo com uma das integrantes do trio feminino de arbitragem. Ricardo Rocha já destilava seu vasto repertório de gozações. Ronaldo, com corte de cabelo em dia, xingou quando desperdiçou chances e estreou o gramado ao arriscar um chute e arrancar o primeiro tufo de grama. Depois, deixou sua marca duas vezes. Macula virou Mancula. Fábio Luciano, no time de Bebeto, perdeu o jogo e o filho ao fim da partida. Zinho lamentou não ter 20 anos. Barrado, Léo Moura assistiu a tudo do banco de reservas e fez questão de registrar seu encontro com o apresentador Luciano Huck.
Mais do que um jogo entre amigos de Bebeto e Ronaldo, o evento-teste na reabertura do Maracanã foi uma grande festa.
Roger Maracanã reabertura (Foto: Janir Junior)Sem aliança no dedo, Roger bate papo com a árbitra no centro do gramado (Foto: Janir Júnior)
Os primeiros a pisarem no gramado foram Neguinho da Beija-Flor e MC Naldo. No gramado, não, já que foi usada uma espécie de tapete azul para que os dois se apresentassem. Na hora do Hino Nacional, Fernanda Abreu, com casaco do Vasco, foi vaiada, deixando evidente a paixão clubística e a maioria rubro-negra que vibrou com Sandra de Sá.
Com a formação dos times em campo, foi possível perceber a presença de um penetra entre os jogadores. O cantor Naldo iniciou a partida ao lado de Ronaldo - a dupla Naldo. Enquanto torcedores bem próximos ao gramado se esgoelavam para conseguir um mero aceno do Fenômeno, um grupo de meninas da turma do gargarejo repetia à exaustão e plenos pulmões os versos da música:
- Vodka ou agua de coco, pra mim tanto faz/Gosto quando fica louca e cada vez eu quero mais.
No centro do gramado, Roger conversava descontraidamente com a árbitra. Fora das quatro linhas, Léo Moura, impedido de jogar, pois tem compromisso pela Copa do Brasil na quarta-feira, tietou Luciano Huck e ficou no banco de reservas. O lateral-direito esteve em campo na partida que marcou o fechamento do Maracanã, no dia 5 de setembro de 2010, quando Flamengo e Santos empataram por 0 a 0.
- Passa um filme na cabeça - disse Léo Moura, enquanto usava as redes sociais para registrar o seu retorno frustrado ao estádio.
Donizete, ex-Botafogo e Vasco, produzia o seu filme do presente, com o celular, mas também com a cabeça no passado. Suspirava:
- Ah, os tempos do Pantera no Maracanã...
Com as meias arriadas que viraram sua marca registrada, Renato Gaúcho não poupou uma das auxiliares.
Ronaldo Maracanã grama (Foto: Janir Junior)O primeiro tufo de grama arrancado no Maracanã
é de Ronaldo (Foto: Janir Junior)
- Estava na mesma linha - chiou, quando a assistente assinalou um impedimento contra o seu time, liderado por Ronaldo.
Renato seguia reclamando. Depois de sofrer falta de Fábio Luciano, aproveitou o novo gramado para deitar e rolar no tapete do Maracanã.
- Ah, Renato, vamos, vamos - brincou Fábio Luciano, enquanto fazia um carinho na cabeça de Renato.
Ronaldo foi um capítulo à parte. De chuteira personalizada, com a inscrição Fenômeno, ele causou prejuízo ao gramado nos primeiros minutos de jogo, ao chutar mal e arrancar um tufo de grama. Esbravejou com palavras impublicáveis. Adversário, Ricardo Rocha riu.
Ronaldo, que na carreira profissional disputou três jogos no Maracanã e não marcou gols, balançou a rede duas vezes.
- Ia dizer que foi meu primeiro gol como profissional no Maracanã, mas já estou aposentado (risos). O gramado está perfeito, a bola corre bem rápido, ao estilo do futebol europeu - disse o Fenômeno.
Zinho se vira para Alexandre Torres no banco de reservas, após elástico de Ronaldo, e brinca: "Sorte sua que não estava lá"
Na saída para o intervalo, na companhia de dois seguranças, Ronaldo foi para o vestiário cansado e entrou por uma porta lateral.
- Cansado - desabafou.
Mas Ronaldo voltou para o segundo tempo. Zinho, que estava no time de Bebeto, não.
- Ah, meus 20 anos... – suspirou o ex-jogador.
Os reservas do time de Bebeto apelidaram Macula de Mancula. Jair Pereira, técnico da equipe, brincou:
- Vou fazer que nem o Evaristo (de Macedo). Entra qualquer um, mas tira ele dali.
Zinho completou, lembrando a dificuldade de Evaristo em lembrar o nome de alguns jogadores:
Leo Moura Maracanã reabertura (Foto: Janir Junior)Barrado pelo Fla, Léo Moura fica sem uniforme no
banco de reservas (Foto: Janir Junior)
- Entra esse, esse. “Qual, Evaristo?” Qualquer um é melhor do que o que está ali em campo.
Ao deixar o jogo, Fábio Luciano procurava um de seus filhos que assistiu à partida do campo.
- Pô, perdi o jogo e meu filho - brincou o ex-jogador.
Já Ronaldo perdeu uma chance e xingou. Depois, desperdiçou um lance incrível, sozinho na grande área. Foi a senha para o coro dos reservas:
- Inacreditável!
Edílson, que marcou duas vezes, brincou:
- Ainda sou o Capeta.
Quando Ronaldo deu um elástico em Donato e fez um golaço, Zinho se virou para Alexandre Torres, que estava no banco do time de Bebeto, e ironizou:
- Sorte sua que não estava lá.
Depois de dois gols e de ganhar uma réplica da taça da Copa do Mundo, Ronaldo sentou rapidamente no banco de reservas e logo seguiu para o vestiário. Ali não era o seu lugar.
Ainda sou o Capeta"
Edílson, autor de dois gols
- O Medida Certa fez bem para ele - brincou uma fã postada logo atrás do banco de reservas, fazendo menção ao quadro do "Fantástico" do qual o ex-jogador participou para emagrecer.
Último jogador a deixar o gramado, Bebeto não se aguentava de cãimbras. Logo ao lado, o ex-vice presidente de finanças do Flamengo, o polêmico Michel Levy, perguntava qual seria a manchete ruim com seu nome. Os embalos de sábado à noite na volta do Maracanã não deram espaço para Levy, que ainda tentou tirar uma foto do filho com Ronaldo. Mas levou um elástico, enquanto um torcedor resumiu:
- Foto hoje é do Maracanã, a estrela principal dessa festa.

sexta-feira, 26 de abril de 2013


Histórias Incríveis: os tiros de João Saldanha que Manga não esquece

No dia do goleiro, ex-arqueiro do Bota relembra episódio em que precisou pular um muro do Mourisco para fugir dos disparos do comentarista

João Saldanha (Foto: Ag. Estado)Lendário João Saldanha fez Manga pular muro de
três metros (Foto: Ag. Estado)
João Saldanha não costumava levar desaforo para casa. Chamado até de João Sem Medo, o comunista assumido participou de guerrilhas e greves. Em um dos atos mais ensandecidos, aceitou o desafio de treinar a seleção brasileira um ano antes da Copa do Mundo de 1970, em meio a uma ferrenha ditadura militar. Política à parte, o comentarista esportivo era capaz de sacar uma arma e alvejar o goleiro do seu time de coração, inclusive indicado por ele para o clube. Foi assim que deixou marcada uma das histórias mais incríveis do futebol. Coube a Manga, assustado, pular um muro de quase três metros, segundo relatam pessoas que estiveram no Mourisco, sede náutica do Botafogo, no dia 19 de dezembro de 1967. A data era comemorativa. Os jogadores alvinegros festejavam a conquista de mais um título do Campeonato Carioca quando o som da bala era tudo que se fazia presente no local do Jantar da Vitória (como era tratado o evento).
O apertar no gatilho persegue Haílton Corrêa de Arruda 45 anos depois. Nesta sexta-feira, Dia do Goleiro, Manga completa seu 76º aniversário. E, por mais que se sinta incomodado com o assunto, justificou-se, rebatendo as insinuações de que estaria vendido naquele jogo contra o Bangu, apesar da vitória por 2 a 1 ao apito final.
- Isso nunca. Ele (João Saldanha) desconfiou. Disse isso na televisão. Disse isso no programa dele. Aí as coisas terminaram muito difíceis para ele e para mim - defendeu-se Manga, que hoje mora no Equador e mistura o português com o espanhol ao conversar.
Manga ex-goleiro Botafogo (Foto: Ag. Estado)Manga no Botafogo: quase baleado por João Saldanha (Foto: Ag. Estado)
Voltando a fita para dois dias antes do episódio do tiro. Botafogo e Bangu jogavam no Maracanã. A atuação do goleiro deixava dúvidas no comentarista João Saldanha, falecido em 1990, aos 73 anos, vítima de um enfisema pulmonar. Existia no ar uma desconfiança de um suposto suborno oferecido pelo então presidente do Bangu, o bicheiro Castor de Andrade - também já falecido. Na transmissão da TV em que trabalhava, Saldanha questionou algumas saídas atabalhoadas do arqueiro em busca da bola. E mandava a pulga para trás da orelha de quem assistia à vitória do Botafogo.
- Estava chovendo bastante. Toda bola era difícil. Como o João era o comentarista, estava dizendo que eu soltava muita bola e desconfiou. Eu, como profissional, fiz minha apresentação, e ganhamos o jogo - relatou Manga.

- Não sei se corromperam (o Manga) ou não em dinheiro, mas com ameaça de morte foi de uma forma visível. Ele estava aterrorizado. Se estou lá (no Botafogo), não deixo ele jogar - contou Saldanha em uma entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, alguns anos depois.
Manga jornal Correio da Manhã caso Botafogo  (Foto: Arquivo / Correio da Manhã)Correio d Manhã registra o dia em que houve os
disparos (Foto: Arquivo / Correio da Manhã)
Mas foi outro personagem que correu atrás do prejuízo após a partida. Castor de Andrade, munido de seus seguranças, invadiu a televisão para tirar satisfação.
- O fundamental foi o espancamento violento, como nunca vi, de um grupinho de torcedores que saíram com as bandeiras no fim (do jogo). (Os seguranças) Cercaram e arrebentaram. Espancadores da mais alta qualidade. Aí botei a boca no mundo. Invadiram a televisão, armados, o Castor e mais uns quatro. Mas a polícia abafou - dizia Saldanha.
Destemido, Saldanha não se intimidou. Com a situação sob controle, ouviu de um dos seguranças da TV um conselho: guardar uma arma para se defender em caso de retorno dos comparsas de Castor. Voltou para casa. Acordou de manhã cedo na segunda-feira pós-decisão, às 7h. Recebeu a visita de um jornalista que já tivera ajudado a tirar “de uma sujeira que ele fez em São Paulo”. O tal jornalista estaria em uma reunião em que ficou combinada a armação para João Saldanha aparecer na festa da comemoração, terça, e ser surpreendido por dois seguranças que o agarrariam para Manga agredi-lo. A cena toda seria registrada pelos veículos da imprensa, contava Saldanha.
Manga ex-goleiro do Internacional (Foto: Divulgação / Site Oficial do Internacional)Manga trabalhou no lnter e hoje mora no Equador
(Foto: Divulgação / Site Oficial do Internacional)
Antes da festa no Mourisco, porém, a imprensa cobrava satisfação do goleiro. O clima era de apreensão.
- Nos outros jornais, tinha um (jornalista) que entrevistou o Manga e dizia: “Vai ficar assim, Manga?”. O Manga não dizia nem sim, nem não. “Mas isso não pode ficar assim” (dizia o jornalista). Eles incentivando e armando - relatou o comentarista ao programa "Roda Viva".
Inicialmente, Saldanha não era afeito a aparecer no local. Até que o sangue ferveu um pouco e as raízes de combatente falaram mais alto.
- Eu estava pensando: se for lá, tenho que matar um; se não for, vou ter que matar uns oito. Então é melhor eu ir. Agarrei dois ferros, botei na cinta e fui para lá cedo.
Contou o próprio que o circo estava armado para começar às 20h, logo após a "Voz do Brasil" (programa radiofônico que vai ao ar durante a semana, de 19h às 20h). Ele chegou mais cedo, 19h. Havia crianças com suas mães no pátio. Escondeu-se embaixo de um Volkswagen, longe da alça de mira dos seguranças. Manga chegou às 19h30m acompanhado por dois companheiros de clube. Transcorria tudo normal. Até João Sem Medo aparecer, como recorda o ex-ponteiro Jairzinho, colega de Manga no Botafogo.
- Quando estava tudo transcorrendo na maior normalidade, surge o Saldanha. Como se fosse um bandido entrando naquela casa, como no faroeste. Estava um barulho terrível, todo mundo falando. Por coincidência, eu estava no grupo que estava com Manga. Não sabíamos que o João ia aparecer. As vozes foram diminuindo de volume, até que de repente o Manga sentiu que paramos de falar e olhou para trás. Ele viu o Saldanha caminhando de encontro a ele. Quando chegou mais ou menos a uns seis passos, o Saldanha sacou um revólver que nunca vi tão grande. Falou para o Manga: “Se der mais um passo, será um homem morto.” O Saldanha deu dois tiros para baixo e um para cima. Lá havia um muro com quase três metros. Nunca vi alguém saltar tão alto. Nem o campeão de salto triplo - relembrou Jairzinho.

- Vai sair sangue, mas é o teu, seu filho... Dei dois tiros, mas sem muita vontade nem de errar nem de acertar. A minha intenção era a seguinte: ele vai correr para onde? Vocês imaginavam onde estavam as câmeras e os seguranças. Aí eu dava um tiro na bunda. Mas ele correu para o outro lado, onde estavam as mulheres e as crianças. Eu não sou pistoleiro, não dei - contava Saldanha.
Ele ainda disparou contra os aparelhos de TV que registravam o momento. Apagou as imagens com o disparo, viu um câmera largar tudo para salvar a vida. Foi capaz até de disparar para afastar de perto o sobrinho Bebeto de Freitas, ex-presidente do Botafogo.
Manga já havia fugido para a rua, assustado. Registrou o caso na 10ª Delegacia Distrital, de Botafogo, na manhã seguinte. Segundo o "Correio da Manhã", o ex-goleiro relatou ao delegado que, no momento em que foi chamado por Saldanha, acreditava em um pedido de desculpa pelos comentários feitos no dia da decisão. Contou o susto ao ver Saldanha sacar a arma. O caso foi entregue ao departamento jurídico do Glorioso da época. No ano seguinte, ele foi negociado com o Nacional, do Uruguai. Saldanha dizia ter ajudado na transferência. Manga não guarda mágoas.
- Depois conversamos e nos acertamos, ficou tudo bem. Ele sabia da denúncia na delegacia, mas não tinha nada. Para um profissional como eu, que sempre jogava machucado, o importante era o respeito que tinha pelo meu clube - disse o ex-goleiro.

Hoje com residência no Equador, Manga completa seus 76 anos de idade ao lado da esposa Cecília. Costuma misturar o espanhol com o português. Mas essa história não precisa de tradução. O som da bala basta. E ele parece ainda incomodado. Pouco importa. Haílton Corrêa de Arruda quer ser lembrado pelas grandes defesas. Essas, inclusive, que fizeram o Dia do Goleiro passar a ser no mesmo dia do seu aniversário.
Manga jornal Correio da Manhã caso Botafogo  (Foto: Arquivo / Correio da Manhã)

Arnold revela troca do futebol pelos halteres: 'Era bom, mas nem tanto'

No Rio de Janeiro para promover sua feira esportiva, ex-atleta e ator conta que jogava bola na escola, mas logo se apaixonou pelo fisiculturismo

Arnold Schwarzenegger é um dos grandes campeões do fisiculturismo mundial, com 13 títulos, e o maior embaixador do esporte em todo o mundo. No entanto, antes de virar um ícone entre os fortões, o ator e ex-governador se arriscou com a bola nos pés. Ainda menino, o austríaco começou a jogar futebol na escola, mas decidiu optar pelo que acreditava ser melhor.
- Foi muito fácil para mim. Eu comecei jogando futebol cedo, na escola. Mas não sei explicar como começou a minha paixão pelo fisiculturismo. Simplesmente aconteceu. Eu achei que tinha mais potencial para dar certo e comecei a treinar com muita força. Pelo menos quatro horas por dia. Eu tinha 100% de certeza que poderia ser campeão mundial. Eu era bom no futebol, mas não tanto. Tinha mais potencial no fisiculturismo - contou.
Arnold Schwarzenegger evento Força Bruta Rio de Janeiro (Foto: Amanda Kestelman)Arnold Schwarzenegger o futebol foi trocado pelo fisiculturismo (Foto: Amanda Kestelman)
Os resultados desse esforço não demoraram para aparecer. Schwarzenegger, que também serviu o exército, passou a ganhar inúmeros torneios europeus de fisiculturismo e de levantamento de peso. O troféu máximo foi ter sido o Mister Universo, com apenas 19 anos.
- Sempre treinei duro. Quando fui ao exército, treinava ainda quatro horas por dia e também dirigia um tanque. Logo depois disso, me torneio o Mister Universo mais novo da história - disse.

Apesar de ter trocado o futebol pelo fisiculturismo, Arnold nunca deixou de acompanhar seu primeiro esporte. O ator, que já revelou ser fã de futebol brasileiro desde muito novo, contou como foi conhecer de perto o ídolo Pelé.
- O futebol é o esporte do Brasil. A paixão nacional, com milhares de jogadores excelentes. Eu, particularmente, tive o prazer de conhecer e sair com o Pelé. Eu sempre fui um grande fã dele e assisti pela televisão a tudo que ele ganhou pelo Brasil. São os melhores do futebol, um espinho para alemães, italianos, inglês... - completou o eterno ''Exterminador do Futuro''
Arnold Schwarzenegger 1977 arquivo (Foto: Getty Images)Arnold Schwarzenegger em seus dias de fisiculturista, nos anos 70 (Foto: Getty Images)
Embaixador da boa saúde, Arnold Schwarzenegger está no Rio de Janeiro promovendo sua feira esportiva ''Arnold Classic'', pela primeira vez na América do Sul. Serão inúmeras competições esportivas das mais diversas modalidades como pole dance, queda de braço, luta olímpica e, claro, fisiculturismo.
No próximo domingo, Arnold estará na competição Força Bruta profissional, também dentro de sua feira. A disputa de força conta com grandes nomes da modalidade dos Estados Unidos e da Europa. A prova consiste em resistência e levantamento de peso e será transmitida ao vivo pela TV Globo dentro do Esporte Espetacular.

Wellington Silva nega ser salvador e revela bronca: 'Tá doido, Bernardo?'

Apontado pela polícia como a pessoa que evitou assassinato do jogador do Vasco, lateral do Flu revela abalo do amigo. Atletas terão que depor

Apontado pela polícia como salvador de Bernardo no caso do espancamento do jogador do Vasco no complexo de favelas da Maré, no último domingo, Wellington Silva negou que tenha encontrado o meia vascaíno na comunidade, mas confirmou que esteve no local para visitar a sua família que mora na região. O lateral-direito do Fluminense, porém, admitiu que, em contato telefônico com o meia, soube de toda história. Wellington disse ainda que, ao contrário do que foi divulgado, o problema teria acontecido na terça-feira e não no domingo.
- Nasci no Complexo da Maré, meus familiares ainda moram lá. No domingo, fui visitá-los e me falaram que o Bernardo estava lá. Tinha tempo que não falava com ele, queria encontrá-lo, fiquei esperando para ver se conseguia conversar com ele, o pessoal falou que ele estava por lá. Mas fui embora e ele não apareceu. Ele me ligou depois e disse o que aconteceu. Eu falei: “Tu é doido, Bernardo?!” Ele disse que ainda estava muito abalado e depois conversaríamos pessoalmente. Ontem (quinta), ele me ligou novamente e disse que não sabia porque meu nome estava envolvido, já que não estive com ele e soube (que era apontado como salvador de Bernardo) pela imprensa – afirmou Wellington Silva ao GLOBOESPORTE.COM, por telefone, na manhã desta sexta.
As informações da polícia dão conta de que Wellington teria sido "chamado" quando os traficantes começaram a espancar Bernardo e convencido os traficantes a pouparem Bernardo argumentando que se o jogador morresse "a favela teria UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no dia seguinte".
Criado e conhecido no Complexo da Maré, Wellington Silva disse que, caso estivesse com o jogador não teria problemas em ajudá-lo. Pelo contrário:
- Se eu estivesse, seria um prazer dar uma ajuda, ele é meu amigo. Mas eu nem sabia de nada. Estou assustado, pois me envolve em uma coisa de que não participei - garante.
wellington silva fluminense treino (Foto: Edgard Maciel de Sá)Wellington Silva treinou normalmente nesta sexta
(Foto: Edgard Maciel de Sá)
Visivelmente nervoso com todo o caso, Wellington Silva garantiu repetidas vezes que não encontrou Bernardo nem atuou como intermediário para salvá-lo do poder dos traficantes.
- Não teve isso (conversa com traficantes), comigo nada, eu não estava no momento, soube bem depois, não falei nada com ninguém. Não o encontrei. Deu minha hora e tinha que voltar para minha casa, no Recreio. Fui embora e não vi o Bernardo. Ainda quero falar com ele pessoalmente. E acho que o problema não foi domingo nem segunda, e sim na terça-feira.
Segundo a polícia, os jogadores que estariam acompanhando Bernardo quando ele foi espancado no complexo de favelas da Maré, no último domingo, seriam Wellington Silva, do Fluminense, e Charles, ex-Cruzeiro, hoje no Palmeiras, ambos criados na comunidade. As informações da polícia dão conta de que Wellington Silva estaria na favela - e foi "chamado" quando os traficantes começaram a espancar Bernardo.
O GLOBOESPORTE.COM também conversou com Charles por telefone. O volante primeiro soou evasivo:
- Estão aumentando muito isso aí. Não foi nada demais.
Não aconteceu nada disso. Não sei de onde está surgindo isso (...). O Bernardo vai lá normal, a minha vida toda foi lá... ele vai lá de vez em quando, mas desconheço isso aí. Se teve algo, eu não estava, mas acredito que não porque fico sabendo das coisas. Se teve... não estou sabendo de nada"
Charles, volante do Palmeiras
Depois, mudou um pouco o tom e negou saber de algum problema:
- Não aconteceu nada disso. Não sei de onde está surgindo isso. Não estou botando a mão na cabeça de ninguém mas não houve nada disso. O Bernardo vai lá normal, a minha vida toda foi lá... ele vai lá de vez em quando, mas desconheço isso aí. Se teve algo, eu não estava, mas acredito que não porque fico sabendo das coisas. Se teve... não estou sabendo de nada.

Atletas terão que depor
Segundo informações da polícia, no último domingo, Bernardo foi sequestrado e agredido por traficantes dentro do Complexo da Maré. O motivo teria sido o seu envolvimento com Dayana Rodrigues, supostamente uma das mulheres de Marcelo Santos das Dores, o Menor P, líder do tráfico no local.
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menor p procurado bernardo (Foto: Divulgação)Dique-Denúncia dá R$ 2 mil por pistas de Menor P,
um dos executores da tortura (Foto: Divulgação)
Bernardo e Dayana teriam sido flagrados por bandidos na Favela Salsa e Merengue, e de lá levados para uma casa na Vila do João, onde teriam sido deixados nus, amarrados com fita crepe, torturados com choques elétricos e espancados.
Dayana levou sete tiros nas pernas, segundo a polícia, e apenas dois, de acordo com informação da Secretaria Municipal de Saúde. Depois, foi libertada e atendida no Hospital Santa Maria Madalena, na Ilha do Governador. De lá seguiu para o Hospital Souza Aguiar, onde passou por duas pequenas cirurgias e permaneceu até esta quinta-feira. O caso foi registrado na 37ª DP (Ilha do Governador) sob o registro de ocorrência 037-02705/2013 e está sendo investigado pela 21ª Delegacia Policial (Bonsucesso).
O delegado José Pedro Costa, titular da 21ª DP (Bonsucesso), intimou Bernardo e Wellington Silva a prestarem depoimento na delegacia. Além deles, a irmã de Dayana Rodrigues também será chamada.